sábado, 30 de abril de 2011

Dia da Mãe – um belíssimo poema de Valdemar Gonçalves

Bendigo a presença feminina
Que tive sempre ao longo do viver,
Que me atravessa, como luz divina,
Materna luz, eterno amanhecer.

Anda comigo, clara, cristalina,
Uma saudade que eu não sei dizer,
Vem do início da vida a abrir-me a sina
E não se apaga ao anoitecer.

Recordo ternamente a minha casa,
Refúgio amigo, cobertura de asa,
Onde avultava a mãe e as irmãs.

Mulheres e mães, escolas de alegria,
Eu vos saúdo neste vosso dia,
Sois a luz refulgente das manhãs.

Valdemar Gonçalves


Para este Dia da Mãe de 2011, em 1 de Maio, coincidente com o Dia do Trabalhador, escolhemos este extraordinário soneto do Cónego Valdemar Gonçalves, prestigiado sócio do Núcleo de Artes e Letras de Fafe e que diz, no seu modo singular de se exprimir, tudo o que nós gostaríamos de transmitir sobre as nossas mães, mas não somos capazes. O poema é retitrado do Povo de Fafe, de 29 de Abril.
Parabéns ao excelso poeta, orgulho do NALF!
Excelente Dia da Mãe para todas as nossas progenitoras!
Benditas mães deste país e do mundo, o nosso obrigado, em nome da continuação da espécie!
Um beijo do tamanho da humanidade para todas vocês!

domingo, 17 de abril de 2011

NALF atribui estatuto de Sócio Honorário ao Presidente da Direcção Artur Coimbra

A Assembleia-geral do Núcleo de Artes e Letras de Fafe reuniu na noite de sexta-feira, 15 de Abril, sob a presidência do Dr. Ribeiro Cardoso, para aprovar o plano de actividades para o ano de 2011 e o relatório de actividades e contas do ano passado, documentos que foram aprovados por unanimidade dos associados presentes.
Para o corrente ano, o NALF projecta publicar uma colectânea de textos e ilustrações evocativa do 20º aniversário da associação, promover um novo curso livre de história local, bem como uma oficina de escrita criativa, dirigida ao público em geral, no sentido de contribuir “para a formação e qualificação cultural da população fafense que queira aderir”.
A colaboração nas segundas jornadas literárias de Fafe, visitas de estudos e outras acções estão integradas no plano de actividades aprovado.
No final da agenda de trabalhos, o presidente da AG, Ribeiro Cardoso, propôs a atribuição ao Presidente da Direcção Artur Ferreira Coimbra do estatuto de Sócio Honorário, “como preito de gratidão pelo muito que de bom fez pelo Núcleo” ao longo dos vinte anos de existência da colectividade.
O documento considera que Artur Coimbra, sócio nº 1, “tem sido ao longo de mais de 20 anos o líder incontestado e a alma mater do Núcleo de Artes e Letras de Fafe”. Tem ainda em vista que “tem prestado e dignificado o Núcleo com a sua visão estratégica em relação à cultura, à literatura, às artes e letras, à história, ao jornalismo e ao associativismo”.
Finalmente, considera que “o perfil do Presidente da Direcção como insigne historiador, investigador, jornalista e homem de cultura orgulha o Núcleo de Artes e Letras de Fafe”.

Associada Catarina Noval expõe em Guimarães

A associada do Núcleo de Artes e Letras de Fafe Catarina Noval participa numa exposição de pintura que decorre no Posto de Turismo de Santiago, em Guimarães, entre 16 e 30 do corrente.
Ficamos felizes por isso e desejamos-lhe os maiores êxitos.

Correio de Fafe, 15 de Abril, p. 2

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ainda o Dia Mundial da Poesia. Texto de Tiago Patrício

Hoje celebra-se o dia mundial da Poesia e gostaria de fazer uma felicitação sincera por este evento magnífico, aqui na cidade de Fafe, com tanta gente e de tantas idades à volta da poesia, ainda por cima com vários jogos de futebol a decorrer algures lá fora, noutros mundos.
Gostaria de focar apenas dois pontos, um deles relacionado com o livro “Cartas de Praga”, premiado pelo Núcleo de Artes e Letras de Fafe e o outro sobre a dedicatória que queria fazer a um poeta amigo, que vive na Síria e estará neste momento a lutar pela liberdade no seu país e não apenas pela liberdade poética.
Esta noite, neste belíssimo Teatro-Cinema, ouviram-se poemas inéditos e consagrados, conjugaram-se alimentos com elementos, depois entrámos pelas ruas, moradas, códigos postais e luares nascentes, até chegarmos aos mais preciosos poemas de amor e de aspirações ao infinito.
É assim a poesia possível e sempre livre num país que nem sempre o foi. Por isso, quando se diz que os poetas fazem tudo aquilo que não é essencial ao mercado e que a importância da poesia aparece na proporção inversa aos graus de liberdade de uma comunidade, estamos a entrar num campo que muitos de nós não conhecem ou já se esqueceram.
Lembro-me muitas vezes do que este poeta Sírio me disse da primeira vez que nos encontrámos – Em tempos de guerra devemos escrever poemas sobre a paz, a libertação, o amor e a esperança e em tempos de paz, devemos relembrar os que ainda sofrem em silêncio, os conflitos latentes e o perigo do esmorecimento. Devemos ser exigentes com a poesia em tempos de paz, meu amigo!
Mas neste estado ambíguo, nestes tempos de traição? O que deveremos escrever?
Nunca lhe consegui perguntar mas acho que encontrei a resposta a partir das circunstâncias em que o livro “Cartas de Praga” surgiu.
Durante o período de residência em Praga, em 2007, frequentei o curso de Checo na Universidade Karlova e duas vezes por semana dirigia-me ao centro da cidade para as aulas. Quando regressei a Lisboa inscrevi-me no curso de Língua e Cultura Checa da Faculdade de Letras e continuo matriculado até hoje, apesar de não passar do nível de conversação básica, de supermercado ou de paragem do eléctrico.
Uma vez uma professora do Departamento de Filosofia perguntou-me o motivo deste investimento numa língua sem grande expressão no pensamento ou nas artes. Kafka escreveu as suas principais obras em Alemão e Kundera escreve em Francês desde que abandonou a Checoslováquia.
Lembro-me que na altura não lhe consegui responder, mas fiquei a pensar nas razões que me levam a insistir no contacto com esta língua Eslava e a regressar a Praga para uma nova residência, neste Verão de 2010, onde fiz a primeira apresentação do livro, “Cartas de Praga”.
Acho que agora talvez consiga perceber e relacionar isso com o meu interesse pelas viagens e pelos grandes acontecimentos que marcaram o homem. Eu gosto de aprender línguas, neste caso o Checo, não para perceber o que os Checos dizem ou pensam, mas para entender as paisagens, os amanheceres e os destinos dos comboios em que gosto de entrar clandestino. Porque nestes tempos de traição, as paisagens dizem muito mais do que os discursos.
Por isso escrevo sobre a geografia dos lugares, sobre as marcas de sangue das multidões em fúria, escrevo para atrair com belas palavras no princípio dos textos e para retirar o tapete no fim, para despir, para fazer uma ponte entre o vazio e o acaso trágico que nos arrasta para o erro e para o vício mortal de carregarmos com títulos ou sobrenomes. E para relembrar que a poesia é o perfeito exercício da inutilidade e contudo, como é bela e terrível essa tarefa e essa constelação de palavras exactas a brilhar, quando fechamos os olhos e no silêncio vemos e ansiamos pelo indescritível, o poema sempre inalcançável.

Tiago Patrício
(vencedor do Prémio de Poesia do Núcleo de Artes e Letras de Fafe)