sexta-feira, 1 de junho de 2012

Daniel Bastos apresentou obra sobre a Santa Casa da Misericórdia de Fafe


O investigador e dirigente do NALF Daniel Bastos apresentou no dia 25 de Maio, no Teatro-Cinema de Fafe, a sua mais recente obra sobre os 150 anos da Santa Casa da Misericórdia de Fafe.
A casa lotou por completo e nela estiveram presentes os dirigentes maiores da Misericórdia local, o presidente da autarquia e o presidente da União das Misericórdias, assim como a grande amiga de Fafe, Professora Dra. Beatriz Rocha Trindade.
Aqui ficam algumas palavras da minha apreciação, no posfácio que, com todo o gosto, elaborei para a obra:

Este é um livro que eu gostaria de ter escrito, sem qualquer dúvida e que durante anos mantive latente no imenso rol de projectos a concretizar. Porque versa uma das instituições seculares mais arreigadas na identidade fafense, a Santa Casa da Misericórdia, à qual sempre me senti, de algum modo, ligado por diversos laços, de história e de amizade.
Aliás, esta é uma obra para a qual “trabalhei” durante alguns anos, silenciosamente, coleccionando bibliografia sobre as misericórdias portuguesas e coligindo recortes, fotocópias de jornais e documentação sobre a Misericórdia fafense que pudessem vir a ser-me úteis para a elaboração do eventual trabalho, que se foi ficando pelo reino das possibilidades.
Acabei por elaborar e publicar, há mais de uma década, uma breve investigação para um trabalho de mestrado sobre os “brasileiros” e a assistência em Fafe na segunda metade do século XIX e que teve como base exactamente a Santa Casa da Misericórdia e os asilos devidos aos beneméritos António Joaquim Vieira Montenegro (infância desvalida) e Manoel Batista Maia (inválidos).
Eis senão quando o jovem e fulgurante historiador Daniel Bastos me dá conta da incumbência que teve, visando a elaboração de uma obra sobre o século e meio da Santa Casa da Misericórdia de Fafe, a partir de 1862.
Fiquei feliz, obviamente. Por mim, porque não teria tempo nem modo de me dedicar, por esta altura, a uma tarefa de tal exigência e profundidade, como a de recensear um século e meio de existência de uma prestimosa e influente organização social, política e económica como a Santa Casa da Misericórdia. E pelo Daniel Bastos, investigador que muito prezo, estimo e apoio, como ele bem sabe e reconhece, que assim tinha oportunidade de evidenciar e exercitar todas as suas reconhecidas potencialidades, talentos e técnicas historiográficas, como veio a acontecer.
Santa Casa da Misericórdia de Fafe – 150 anos ao Serviço da Comunidade aí está para o comprovar, se tal ainda fosse necessário!
Devo sublinhar que, na minha perspectiva, estamos em presença da primeira grande obra historiográfica de Daniel Bastos. Uma obra monográfica completa, consistente, escorada em exaustivas pesquisas em arquivos e bibliotecas e leituras bibliográficas, como bem é sublinhado pela ilustre Professora Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade, no prefácio.
Uma obra que ultrapassa em muito a colecção estruturada de artigos, de si imensamente meritória, mas a que escasseia coerência interna, que foi Fafe – Estudos de História Contemporânea, editada há um ano.
Em Santa Casa da Misericórdia de Fafe é imensa a informação sobre a génese da instituição, os seus principais passos e realizações ao longo de ciclos marcadamente políticos da História nacional e local (Monarquia Constitucional, Primeira República, Estado Novo e Democracia).
Assistimos às vicissitudes do lançamento, inauguração e consolidação do Hospital de S. José, ao aparecimento das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora, a criação do Asilo de Inválidos de Santo António, os vários legados e pedidos de apoios para o Hospital e o asilo, as influências políticas sobre as mesas da Misericórdia, consoante os regimes, os grandiosos cortejos de oferendas de 1944, 1955 e 1965, em benefício e para enriquecimento da unidade hospitalar e, mais recentemente, a reconfiguração, da instituição, com a perda da área da saúde, em 1975 e a viragem para as valências da terceira idade (lares Cónego Leite de Araújo, D. Joaquina Leite e D. Alzira Oliveira Sampaio) e educação de infância (diversos jardins e centros de actividades de tempos livres).
Além da galeria dos beneméritos da instituição, ao longo dos anos, são ainda referenciados meticulosamente os titulares das mesas administrativas da Santa Casa desde a fundação em 1862 à actualidade.
O que fica em essência, neste livro de excelência sobre uma instituição admirável, é o filantrópico apoio, desde o início da instituição, dos fafenses emigrantes no Brasil, que tanto contribuíram para o desenvolvimento e modernização do município na segunda metade do século XIX e não se poupavam a esforços para dotar o Hospital das melhores condições, mas também os fafenses que aqui ficaram e que sempre responderam à chamada, sobretudo nos três majestosos cortejos em favor do Hospital e que renderam avultadas quantias em espécie, como se verifica na obra.
Pela Santa Casa da Misericórdia passa, na verdade, a nata da melhor sociedade fafense do último século e meio, as elites locais, do ponto de vista profissional, político e económico. Pela provedoria e pelas diversas mesas, passaram presidentes de câmara, vereadores, advogados, capitalistas, empresários, professores, comerciantes, industriais e clérigos, entre outras.
Daí a relevância desta obra, por ser o espelho do que de melhor Fafe teve e continua a ter. E esse escol tem governado também a Misericórdia ao longo dos últimos 150 anos (como tem feito, de resto, em outras áreas sociopolíticas).
Resta-me felicitar vivamente o seu autor e grande amigo, Daniel Bastos, por esta fantástica obra de grande fôlego, solidez e densidade, pelo imenso estudo de aturada e sacrificada investigação que lhe subjaz, como antes foi evidenciado.
Só os oficiais do mesmo ofício fazem ideia da quantidade de horas, de dias, de meses que é necessário, pacientemente, solitariamente, esforçadamente, em luta insana com documentos, bibliografia, citações, dedicar a um trabalho como este, para que o sonho do homem se transforme na soberba obra que temos hoje em mãos!...
Para a Santa Casa da Misericórdia de Fafe vão os meus imensos parabéns pela edição desta vistosa monografia, que fica a constituir a partir de agora um gracioso cartão de visita do historial da vetusta instituição, que honrou e honra o município e as suas gentes!

Fotos: Manuel meira Correia