segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cantares de Abril (Augusto Fera)


 

Os cravos rubros precisam

De mais cuidados que os brancos,

Há parasitas que os pisam

Com os mais duros tamancos.

 

Pus o meu cravo encarnado

Do lado do coração,

Porque a vida noutro lado

Apenas tem um pulmão.

 

No calendário dos ventos

E das aves erradias

O mês de Abril tem trezentos

E sessenta e cinco dias.

 

O meu craveiro da horta

É campainha gentil

Que diz quando está à porta

O vinte e cinco de Abril.

 

Não temas usar por brinco

Umas cerejas vermelhas,

Porque o dia vinte e cinco

De Abril deu-nos as orelhas.

 

Curando as unhadas mil

Que lhe dão o irmão atro,

O vinte e cinco de Abril

Perdoou ao vinte e quatro.

 

AUGUSTO FERA

(O Jornal de Felgueiras, Junho de 1983)