O II
Curso Livre de História Local, organizado pelo Núcleo de Artes e Letras de
Fafe, sobre o impacto da Guerra Colonial, começou da melhor forma com uma
soberba explanação de José Manuel Lages, director científico do Museu da Guerra
Colonial.
A
sessão começou com uma breve apresentação do presidente do Núcleo de Artes e
Letras, Artur Coimbra, fazendo o enquadramento da iniciativa, no âmbito da
evocação dos 50 anos do início da Guerra em África (1961, em Angola; 1963, na
Guiné e 1964, em Moçambique), que se prolonga até 2014, altura em que será
lançada uma obra de testemunhos e textos de antigos combatentes de Fafe e
também as actas deste curso livre.
Durante
mais de uma hora e meia, o orador falou do itinerário dos combatentes da Guerra
Colonial, fazendo o seu trajecto, desde a partida até ao regresso (vivos ou
mortos), incluindo a sua vida no Ultramar.
Passados
mais de quarenta anos sobre o fim da Guerra, ainda não há números concretos e
definitivos sobre os participantes e as baixas neste conflito sangrento que
arrastou o maior sofrimento individual e colectivo neste país.
Há
quem fale em 1 milhão de participantes; há quem fale em 1,2 milhões.
Há
quem fale em 8 mil mortos e quem fale em 10 mil.
Há
quem aponte 20 mil deficientes e quem avance para os 26 mil.
Há
quem cifre em 100 mil os que sofrem do stress pós traumático de guerra e os que
apontam para mais de 140 mil.
José
Manuel Lages falou da tendência para a incorporação de militares por região, da
morte dos militares (a família chorava o seu morto quatro vezes), dos feridos,
deficientes e prisioneiros de guerra, da correspondência (aerogramas,
telegramas, cassetes), dos diários pessoais, de companhia e dos capelães e de
outros assuntos de interesse para os participantes, sobretudo ex-combatentes,
docentes e outros interessados.
Abordou
as principais causas de deficiência (minas) e de morte (combate, acidentes e
doenças), bem como o frequente recurso a medicamentos, álcool e drogas entre os
militares, para os manterem “em forma” e “aptos” para as operações bélicas.
O
orador abordou ainda ao de leve temas ainda hoje interditos ou pouco explorados,
como a existência do Anexo Militar, um verdadeiro “campo de concentração” em
Lisboa para onde eram levados os feridos, estropiados, cegos e queimados resultantes
da guerra colonial; os “homens-cesto”, sem pés nem braços, escondidos às
famílias e o Centro Ortopédico Militar de Hamburgo, para onde foram muitos dos militares,
vítimas de minas ou de bombas (pelo menos dois, estiveram presentes nesta
sessão).
Os
militares portugueses foram verdadeiros heróis, sem dúvida, nas difíceis
condições do terreno e da subsistência registadas nas nossas colónias, que nada
se comparavam por exemplo, às condições dos combatentes americanos na guerra no
Vietname.
Os presentes
adoraram estas e outras matérias por parte de um investigador que não esteve na
guerra colonial e que mostrou saber tanto ou mais do que muitos que a viveram
por dentro.
O
curso prossegue na próxima quinta-feira (31 de Outubro) com a intervenção do
ex-combatente Jaime Silva que falará sobre o tema “A participação de militares do
concelho de Fafe no Ultramar”.
Em 7 de Novembro, a temática “A Guerra
Colonial nas páginas da imprensa local” será tratada pelo historiador Daniel
Bastos e em 14 de Novembro o também historiador e ex-combatente Artur Magalhães
Leite modera o quarto módulo sobre “O conflito contado por aqueles que o
viveram: imagens e testemunhos da Guerra Colonial”.
Finalmente, em 21 de Novembro, culmina o
curso com o tema “Memórias literárias da Guerra Colonial”, pelo historiador
Artur Coimbra, seguindo-se a entrega dos diplomas de participação.
Sempre na Biblioteca Municipal de Fafe, entre
as 18h30 e as 20h00!
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