O Núcleo de Artes e Letras de Fafe
promoveu, sábado à noite, no Club Fafense, uma tertúlia literária de homenagem
à poetisa fafense Soledade Summavielle, nome maior da poesia portuguesa da
segunda metade do século XX, por ocasião dos 106 anos do seu nascimento
(07/12/1907) e dos 50 anos sobre a publicação da sua primeira obra, “Sol Nocturno” (1963).
Foi uma noite mágica, num ambiente
poético e musical, com um conjunto de actividades em torno da vida e obra de
Soledade Summavielle, tendo por tema “As Flores do meu Jardim”.
Soledade Summavielle “regressou” a
Fafe, 13 anos depois da sua morte, ocorrida em Fevereiro de 2000, aos 92 anos, e
trouxe com ela o seu perfume e sentimentos.
Carlos Afonso, professor da Escola
Secundária e director do NALF, começou por enquadrar poeticamente a acção, que
continuou com a primeira actuação do Coro de Pais e Amigos da Academia de Música
José Atalaya.
Entretanto, Soledade apareceu magicamente
na sala repleta de público do Club Fafense, na excelsa figuração de Orlanda
Silva, declamando um poema e declarando, enfaticamente, que “foi em Fafe que eu
nasci e é neste jardim, no coração do Minho” plantado, que eu quero viver
eternamente…”.
Artur Coimbra, presidente do Núcleo
de Artes e Letras, interveio para abordar, num primeiro momento, a longa existência
de Soledade dedicada inteiramente à arte e sobretudo à sua faceta de cantora
lírica, a menos conhecida da sua obra, conquanto tenha atingido nela elevada
notoriedade a nível nacional.
Lembremos que Soledade cantou no
Teatro-Cinema de Fafe (Abril de 1942) e em locais de culto da época: no Teatro
S. João do Porto (anos 40), no Salão Nobre do Orfeão do Porto (24 de Maio de
1943), bem como no Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa, onde interpretou a
primeira figura da ópera “Cristal”, do maestro Ruy Coelho, nas comemorações dos
150 anos da inauguração daquele teatro, em Junho de 1943.
Pouco tempo depois actuaria num
memorável espectáculo no Monumental Casino da Póvoa de Varzim (23 Agosto de
1943).
A sessão incluiu ainda a
apresentação de um documentário sobre a poetisa, por três alunas da Escola
Secundária, bem como de uma página na internet abordando a vida, obra,
correspondência e iconografia de Soledade Summavielle, da iniciativa da
Biblioteca Municipal.
Artur Coimbra voltaria à cena
para abordar a poesia de Soledade Summavielle, que publicou uma dezena de
livros, entre 1963 e 1991, que a singularizam como uma das vozes mais fortes e
sentimentais da poesia portuguesa do século passado.
Além disso,
colaborou em diversas antologias poéticas, algumas editadas pelo Núcleo de
Artes e Letras nos anos 80, traduziu três obras literárias e publicou duas
obras para crianças, nos anos 70.
Foi referido
ainda que o Cenáculo Artístico e Literário “Tábua Rasa” distinguiu--a, em 21 de
Janeiro de 1971, com um jantar de homenagem a que se associaram figuras
altamente representativas das artes e das letras: Hernâni Cidade, Natália
Correia, Natércia Freire, João Maia, entre outros, o que confere dimensão
nacional à nossa poetisa.
Analisaram e
enalteceram a sua poesia figuras cimeiras da literatura nacional, como Jacinto
do Prado Coelho, João Gaspar Simões, Luís Forjaz Trigueiros, Ferreira de
Castro, António Quadros, João de Araújo Correia, Mário António, Guedes de
Amorim e Amândio César, entre outros.
A crítica
sublinhou em Soledade Summavielle, uma profunda sensibilidade e uma enérgica
recusa a tudo quanto não corresponda à sua vibrante sinceridade do Poema.
O escritor e crítico António de Sèves Alves Martins,
escreveu, em 1984, no jornal Novo Século, a propósito da poetisa: “Mulher, esteta, conseguida no encontro do
equilíbrio entre o sonho e a realidade, conhecedora e amante do bom e do belo,
alma repleta de acontecimentos, hábil na utilização do verbo, sincera na
expressão do sentir, não admira que Soledade Summavielle ocupe na Poesia um
lugar de relevo, lugar de poeta maior”.
Artur Coimbra relembrou ainda que Soledade Summavielle nunca se esqueceu da sua terra. Aqui regressava
amiudadas vezes para rever o seu território, a sua casa, os seus amigos, enfim,
as próprias raízes que são o sustento e o sentido da Vida e da Poesia.
Escreveu belíssimos textos sobre
a sua casa e a sua terra.
Será de referir que, no seu
testamento, deixou donativos para diversas instituições fafenses,
concretamente, Bombeiros Voluntários, Grupo Nun’Álvares, Banda de Golães, Banda
de Revelhe, Conferência de S. Vicente de Paulo e Cercifaf.
A sessão incluiu ainda leitura de
poemas da autora, testemunhos de amigos e familiares, entremeados por momentos
musicais (piano e canto, flauta, clarinete e actuação do Coro de Pais e Amigos
da Academia de Música José Atalaya, sob a direcção do Prof. Tiago Ferreira).
(Fotos: Manuel Meira)
Parabéns pelas brilhantes iniciativas em prol da poética e do reconhecimento público de uma poetisa de excelência!
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