O escritor fafense e associado do Núcleo
de Artes e Letras Artur Magalhães Leite apresenta a sua mais recente obra As
Ruas de Fafe: História e Toponímia, esta sexta-feira, 16 de Novembro,
pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Fafe. A entrada é livre.
A apresentação da obra está a cargo de
Mónica Guimarães, que assina o prefácio.
Esta é a obra mais recente de Artur
Magalhães Leite (n. 1948), que assinou também um capítulo da obra A Primeira
República em Fafe – Elementos para a sua história, editada pelo Núcleo de
Artes e Letras de Fafe, há um mês.
Transcrevemos de seguida a nota introdutória do livro:
O estímulo que me levou a
recolher dados históricos sobre as ruas de Fafe liga-se ao meu desconhecimento
sobre a evolução toponímica da cidade. Embora possa parecer uma banalidade aos
olhos de leitores menos atentos à profundidade deste trabalho, trata-se de um
grande esforço no campo da pesquisa, no número de horas aplicadas nas recolhas,
na selecção e no tratamento do material pesquisado e recolhido.
Outras justificações que
abonam o presente trabalho, são as múltiplas aplicações, e os inúmeros
ensinamentos que esta recolha pode ter para os leitores. Vai facilitar a
localização das ruas, mostrar a importância e o valor dos seus patronos,
alertar para a evolução onomástica ocorrida com o passar dos anos, e
percebermos a animosidade vivida na passagem para o regime político seguinte.
No conjunto pode-se conhecer uma parte da história local e nacional, dos
lugares, da geografia fafense e identificar artérias desconhecidas ou mal
localizadas.
Sabendo que no ano de
1705, além do centro, pouco mais tínhamos do que a Rua de Cima e Rua de Baixo,
podemos concluir que Fafe era uma vila muito insignificante em termos de
dimensão urbana. Assistimos desde então a uma evolução lenta mas sempre
crescente.
A grande maioria das
artérias que constam deste trabalho narra a sequência dos regimes políticos que
governaram Portugal, outras afirmam a presença dos brasileiros de torna-viagem
e evidenciam o seu contributo operado nas benfeitorias locais. Inúmeras ruas
assinalam nomes de países um pouco por toda a Europa e até fora dela. É por
isso que encontramos uma zona onde predominam nomes de países da União
Europeia. Outras áreas mostram-nos o nome dos mais representativos escritores
portugueses; outras ostentam nomes dos novos países de expressão portuguesa;
algumas exibem o nome de presidentes da república, de ilustres fafenses, de
nome de santos etc.
A população local foi pondo o nome à sua rua,
à medida que a urbe crescia. Preferiu nomes de santos ou de personagens de
relevo daquele bairro ou rua. Mais tarde, a edilidade completou o serviço
quando a proliferação das artérias se verificou.
Umas receberam o nome dos
seus patronos para não mais os perderem, pela grandeza do significado para esta
terra; porém, a diversas ruas foi-lhes alterado o topónimo primitivo consoante
o valor atribuído à nova situação.
Os espaços mais desejados
para se proceder à consagração do novo regime político foram a Avenida 5 de
Outubro, a Praça 25 de Abril, a Rua Humberto Delgado, a Rua João XXIII, e a
Praça da Resistência ao Fascismo. Cada vez que se evoluía para um novo regime
político em Portugal, assistia-se a mudanças na designação de algumas artérias
da vila ou cidade. Alguns desses câmbios prestam-se a alguma confusão.
A 16 de Abril de 1981,
por proposta do Presidente da Câmara, constituiu-se uma comissão com o objectivo
de estudar, escolher e coordenar o nome a atribuir às novas ruas, e sempre que
possível, manter o mesmo tema em zonas específicas.
Critérios orientadores da
nomenclatura das ruas
A Câmara solicitou
letreiros em azulejos ao Automóvel Clube de Portugal, em Dezembro de 1912, para
marcação das estradas da vila de Fafe, já que as povoações rurais não ofereciam
interesse apreciável para o turismo. Mas faltava numerar as entradas das casas.
A primeira tentativa
encontrada nas pesquisas para numerar a entrada das casas em Fafe data de uma
deliberação da edilidade na sua reunião de 4 de Dezembro de 1913. A autarquia combinou
com os caiadores o preço de $02,5 por cada número com um ou mais algarismos.
Muito mais tarde, na
sessão camarária de 22 de Dezembro de 1976 a autarquia deliberou dotar todos os
prédios da vila com números de polícia, isto é, mandou assinalar as entradas
com um número, já que muitos careciam dessa identificação. Para isso constituiu
uma comissão, a fim de diligenciar que todos os prédios de Fafe fossem
assinalados com o número junto da entrada. Não foi muito eficaz.
Contudo, continuava
também a não existir uma política concertada para atribuição do nome às ruas.
De novo, a 18 de Janeiro de 1984,
a Câmara constituiu uma comissão para proceder a uma “revisão
da toponímia da vila”. Era composta pelos vereadores Dr. José Ribeiro, Dr.
João Salvador e Padre Joaquim Soares.
De uma maneira geral,
hoje as ruas estão devidamente identificadas com placas alusivas ao respectivo
patrono, e convenientemente numeradas as respectivas habitações ou entrada de
prédios. Algo mais se poderá fazer para melhor perceber quem foi o ilustre
personagem que emprestou o seu nome a um local. Completar-se-ia a identificação
do local subescrevendo o onomástico anterior, se o houver, referir o actual
e/ou assinalar claramente a importância do nome escolhido como forma de ajudar
a perceber o valor da escolha preferida.
Outra observação a ter em
conta é a persistência que a comunidade fafense mantém na designação de certos
lugares como Feira Velha, Rua de Baixo, Rua do Maia. Não tem adiantado atribuir
novas designações. Estes nomes instalaram-se no consenso dos fafenses e teimam
em que permaneça a tradição. As antigas nomeações incutem maior valor e
significado à história de Fafe, e os naturais insistem em assinalar esses
locais pela nomenclatura primitiva.
Opções na atribuição dos
nomes às ruas e outros espaços
Deparámo-nos neste
trabalho com mais de quinhentas e cinquenta entradas. Nestas identificámos
cinquenta e seis entradas consagradas a nomes representativos de personagens
locais. Todos contribuíram de alguma forma para o evoluir de Fafe: uns pela
relevância profissional, outros pelo desempenho político fafense, muitos são
beneméritos locais que contribuíram para a evolução histórica da cidade e do
concelho. Como forma pública de reconhecimento dos seus préstimos, como se
tratasse de um hino festivo, a edilidade honrou o seu nome nas artérias da
cidade. Vejamos apenas uns poucos exemplos: Rua Monsenhor Vieira de Castro, Rua
José Cardoso Vieira de Castro; Rua José Maciel; Rua António Saldanha, Praça
Parcídio de Matos, Rua Manuel Ribeiro etc.
Também há vinte e quatro
entradas com nomes de países ou regiões estrangeiras, tendo algumas pertencido
ao nosso império ultramarino: Alemanha, Angola, Bélgica, Brasil, Cabo Verde,
Damão, Dinamarca, Diu, França, Galiza, Goa, Guiné, Holanda, Inglaterra,
Irlanda, Itália, Luxemburgo, Macau, Moçambique, Mónaco, Noruega, São Tomé e
Príncipe, Suécia e Timor. São cerca de 4,3% do total das entradas neste
trabalho.
Apenas existem duas ruas
ornamentadas com nomes femininos: Amália Rodrigues e Florbela Espanca; todavia,
existiram ainda noutros tempos mais duas: Maria Pia e Rosinha do Ferreiro.
Predomina a onomástica da elite masculina.
Uma distinta família
fafense destaca-se com seus sete patronímicos na nomenclatura urbana:
Urbanização e Rua Engenheiro Armando Campos e Matos; Rua Dr. José Summavielle
Soares: Travessa Dr. José Summavielle Soares; Rua Dr. Maximino de Matos; Praça
Dr. Parcídio de Matos; Praça José Florêncio Soares, cerca de 1,5% do total das
entradas que constam deste trabalho.
Outra curiosidade que
encontrámos foi a sucessão de memórias atribuídas a nove entradas com datas
históricas. Destas estão em vigor apenas cinco: – Parque 1º de Dezembro de
1640; Praceta 1º de Maio; Praça 25 de Abril; Rua 31 de Janeiro; Avenida 5 de
Outubro. Todavia, caíram em desuso quatro: Largo 9 de Abril; Parque 14 de Maio;
e Rua 8 de Dezembro, menos de 1% do total de entradas nesta obra.
Dedicadas a membros do
clero somente está em vigor a Rua Monsenhor Vieira de Castro, e o Largo Cónego
Leite de Araújo.
Finalmente existem na
cidade de Fafe dezanove nomes de ruas escolhidos de entre os santos mais
populares na hagiografia da igreja católica: 8 de Dezembro; Rua e Largo de
Santo Ovídio; Avenida, Travessa, Monte, e Parque de São Jorge; Rua e Travessa
de São Bento; Rua de Santa Eulália; Rua e Travessa de São Brás; Rua, Ponte e
Calçada de São José; Rua de São Pedro; Senhora do Horto; Rua e Travessa dos
Senhora dos Remédios, cerca de 3,5% do total das entradas.
Os interesses e paixões,
as iras e afeiçoamentos políticos, o bairrismo e a devoção popular
condicionaram a escolha do patrono a atribuir ao local, rua ou largo. Porém, há
heróis não celebrados.
Houve ainda situações
bizarras ao substituir-se o nome de um benemérito fafense por outro patrono que
muito bem poderia ter sido atribuído uma artéria sem ter de se alterar a
designação anterior: Rua do Maia passou a ser Rua António Sérgio; Rua
Comendador Albino Guimarães tornou-se Rua Ferreira de Castro. Todavia, continua
a haver grandes nomes fafenses não celebrados na toponímia da cidade.
Deparamo-nos com 51 ruas ligadas à vida
política em Portugal e corresponde a cerca de 9% do total das entradas no
estudo que aqui apresentamos.
Poucas foram as ruas a
que se deu o nome do patrono com este ainda vivo. Encontrámos alguns casos que
mostram a excepção à regra: Avenida Conde Paçô Vieira, Avenida José Luciano de
Castro, Rua do Maia, Avenida General Carmona, Rua António Cândido, Rua Teófilo
Braga e Praça Oliveira Salazar.
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