terça-feira, 13 de novembro de 2012

“As Ruas de Fafe: História e Toponímia” - Artur Magalhães Leite apresenta nova obra

O escritor fafense e associado do Núcleo de Artes e Letras Artur Magalhães Leite apresenta a sua mais recente obra As Ruas de Fafe: História e Toponímia, esta sexta-feira, 16 de Novembro, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Fafe. A entrada é livre.
A apresentação da obra está a cargo de Mónica Guimarães, que assina o prefácio.
Esta é a obra mais recente de Artur Magalhães Leite (n. 1948), que assinou também um capítulo da obra A Primeira República em Fafe – Elementos para a sua história, editada pelo Núcleo de Artes e Letras de Fafe, há um mês.
Transcrevemos de seguida a nota introdutória do livro:
O estímulo que me levou a recolher dados históricos sobre as ruas de Fafe liga-se ao meu desconhecimento sobre a evolução toponímica da cidade. Embora possa parecer uma banalidade aos olhos de leitores menos atentos à profundidade deste trabalho, trata-se de um grande esforço no campo da pesquisa, no número de horas aplicadas nas recolhas, na selecção e no tratamento do material pesquisado e recolhido.
Outras justificações que abonam o presente trabalho, são as múltiplas aplicações, e os inúmeros ensinamentos que esta recolha pode ter para os leitores. Vai facilitar a localização das ruas, mostrar a importância e o valor dos seus patronos, alertar para a evolução onomástica ocorrida com o passar dos anos, e percebermos a animosidade vivida na passagem para o regime político seguinte. No conjunto pode-se conhecer uma parte da história local e nacional, dos lugares, da geografia fafense e identificar artérias desconhecidas ou mal localizadas.
Sabendo que no ano de 1705, além do centro, pouco mais tínhamos do que a Rua de Cima e Rua de Baixo, podemos concluir que Fafe era uma vila muito insignificante em termos de dimensão urbana. Assistimos desde então a uma evolução lenta mas sempre crescente.
A grande maioria das artérias que constam deste trabalho narra a sequência dos regimes políticos que governaram Portugal, outras afirmam a presença dos brasileiros de torna-viagem e evidenciam o seu contributo operado nas benfeitorias locais. Inúmeras ruas assinalam nomes de países um pouco por toda a Europa e até fora dela. É por isso que encontramos uma zona onde predominam nomes de países da União Europeia. Outras áreas mostram-nos o nome dos mais representativos escritores portugueses; outras ostentam nomes dos novos países de expressão portuguesa; algumas exibem o nome de presidentes da república, de ilustres fafenses, de nome de santos etc.
A população local foi pondo o nome à sua rua, à medida que a urbe crescia. Preferiu nomes de santos ou de personagens de relevo daquele bairro ou rua. Mais tarde, a edilidade completou o serviço quando a proliferação das artérias se verificou.
Umas receberam o nome dos seus patronos para não mais os perderem, pela grandeza do significado para esta terra; porém, a diversas ruas foi-lhes alterado o topónimo primitivo consoante o valor atribuído à nova situação.
Os espaços mais desejados para se proceder à consagração do novo regime político foram a Avenida 5 de Outubro, a Praça 25 de Abril, a Rua Humberto Delgado, a Rua João XXIII, e a Praça da Resistência ao Fascismo. Cada vez que se evoluía para um novo regime político em Portugal, assistia-se a mudanças na designação de algumas artérias da vila ou cidade. Alguns desses câmbios prestam-se a alguma confusão.
A 16 de Abril de 1981, por proposta do Presidente da Câmara, constituiu-se uma comissão com o objectivo de estudar, escolher e coordenar o nome a atribuir às novas ruas, e sempre que possível, manter o mesmo tema em zonas específicas.
Critérios orientadores da nomenclatura das ruas
 
A Câmara solicitou letreiros em azulejos ao Automóvel Clube de Portugal, em Dezembro de 1912, para marcação das estradas da vila de Fafe, já que as povoações rurais não ofereciam interesse apreciável para o turismo. Mas faltava numerar as entradas das casas.
A primeira tentativa encontrada nas pesquisas para numerar a entrada das casas em Fafe data de uma deliberação da edilidade na sua reunião de 4 de Dezembro de 1913. A autarquia combinou com os caiadores o preço de $02,5 por cada número com um ou mais algarismos.
Muito mais tarde, na sessão camarária de 22 de Dezembro de 1976 a autarquia deliberou dotar todos os prédios da vila com números de polícia, isto é, mandou assinalar as entradas com um número, já que muitos careciam dessa identificação. Para isso constituiu uma comissão, a fim de diligenciar que todos os prédios de Fafe fossem assinalados com o número junto da entrada. Não foi muito eficaz.
Contudo, continuava também a não existir uma política concertada para atribuição do nome às ruas. De novo, a 18 de Janeiro de 1984, a Câmara constituiu uma comissão para proceder a uma “revisão da toponímia da vila”. Era composta pelos vereadores Dr. José Ribeiro, Dr. João Salvador e Padre Joaquim Soares.
De uma maneira geral, hoje as ruas estão devidamente identificadas com placas alusivas ao respectivo patrono, e convenientemente numeradas as respectivas habitações ou entrada de prédios. Algo mais se poderá fazer para melhor perceber quem foi o ilustre personagem que emprestou o seu nome a um local. Completar-se-ia a identificação do local subescrevendo o onomástico anterior, se o houver, referir o actual e/ou assinalar claramente a importância do nome escolhido como forma de ajudar a perceber o valor da escolha preferida.
Outra observação a ter em conta é a persistência que a comunidade fafense mantém na designação de certos lugares como Feira Velha, Rua de Baixo, Rua do Maia. Não tem adiantado atribuir novas designações. Estes nomes instalaram-se no consenso dos fafenses e teimam em que permaneça a tradição. As antigas nomeações incutem maior valor e significado à história de Fafe, e os naturais insistem em assinalar esses locais pela nomenclatura primitiva.
Opções na atribuição dos nomes às ruas e outros espaços
 
Deparámo-nos neste trabalho com mais de quinhentas e cinquenta entradas. Nestas identificámos cinquenta e seis entradas consagradas a nomes representativos de personagens locais. Todos contribuíram de alguma forma para o evoluir de Fafe: uns pela relevância profissional, outros pelo desempenho político fafense, muitos são beneméritos locais que contribuíram para a evolução histórica da cidade e do concelho. Como forma pública de reconhecimento dos seus préstimos, como se tratasse de um hino festivo, a edilidade honrou o seu nome nas artérias da cidade. Vejamos apenas uns poucos exemplos: Rua Monsenhor Vieira de Castro, Rua José Cardoso Vieira de Castro; Rua José Maciel; Rua António Saldanha, Praça Parcídio de Matos, Rua Manuel Ribeiro etc.
Também há vinte e quatro entradas com nomes de países ou regiões estrangeiras, tendo algumas pertencido ao nosso império ultramarino: Alemanha, Angola, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Damão, Dinamarca, Diu, França, Galiza, Goa, Guiné, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Macau, Moçambique, Mónaco, Noruega, São Tomé e Príncipe, Suécia e Timor. São cerca de 4,3% do total das entradas neste trabalho.
Apenas existem duas ruas ornamentadas com nomes femininos: Amália Rodrigues e Florbela Espanca; todavia, existiram ainda noutros tempos mais duas: Maria Pia e Rosinha do Ferreiro. Predomina a onomástica da elite masculina.
Uma distinta família fafense destaca-se com seus sete patronímicos na nomenclatura urbana: Urbanização e Rua Engenheiro Armando Campos e Matos; Rua Dr. José Summavielle Soares: Travessa Dr. José Summavielle Soares; Rua Dr. Maximino de Matos; Praça Dr. Parcídio de Matos; Praça José Florêncio Soares, cerca de 1,5% do total das entradas que constam deste trabalho.
Outra curiosidade que encontrámos foi a sucessão de memórias atribuídas a nove entradas com datas históricas. Destas estão em vigor apenas cinco: – Parque 1º de Dezembro de 1640; Praceta 1º de Maio; Praça 25 de Abril; Rua 31 de Janeiro; Avenida 5 de Outubro. Todavia, caíram em desuso quatro: Largo 9 de Abril; Parque 14 de Maio; e Rua 8 de Dezembro, menos de 1% do total de entradas nesta obra.
Dedicadas a membros do clero somente está em vigor a Rua Monsenhor Vieira de Castro, e o Largo Cónego Leite de Araújo.
Finalmente existem na cidade de Fafe dezanove nomes de ruas escolhidos de entre os santos mais populares na hagiografia da igreja católica: 8 de Dezembro; Rua e Largo de Santo Ovídio; Avenida, Travessa, Monte, e Parque de São Jorge; Rua e Travessa de São Bento; Rua de Santa Eulália; Rua e Travessa de São Brás; Rua, Ponte e Calçada de São José; Rua de São Pedro; Senhora do Horto; Rua e Travessa dos Senhora dos Remédios, cerca de 3,5% do total das entradas.
Os interesses e paixões, as iras e afeiçoamentos políticos, o bairrismo e a devoção popular condicionaram a escolha do patrono a atribuir ao local, rua ou largo. Porém, há heróis não celebrados.
Houve ainda situações bizarras ao substituir-se o nome de um benemérito fafense por outro patrono que muito bem poderia ter sido atribuído uma artéria sem ter de se alterar a designação anterior: Rua do Maia passou a ser Rua António Sérgio; Rua Comendador Albino Guimarães tornou-se Rua Ferreira de Castro. Todavia, continua a haver grandes nomes fafenses não celebrados na toponímia da cidade.
Deparamo-nos com 51 ruas ligadas à vida política em Portugal e corresponde a cerca de 9% do total das entradas no estudo que aqui apresentamos.
Poucas foram as ruas a que se deu o nome do patrono com este ainda vivo. Encontrámos alguns casos que mostram a excepção à regra: Avenida Conde Paçô Vieira, Avenida José Luciano de Castro, Rua do Maia, Avenida General Carmona, Rua António Cândido, Rua Teófilo Braga e Praça Oliveira Salazar.

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