domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal de 2012 - Poemas de José Salgado Leite


 
I

Levam-nos tudo! Humor, sonho, alegria,

Esperança, lisura, bem-estar,

Emprego, habitação, carro, energia,

Reforma, pensão, sustento do lar!

 

Uns sofrem, outros tiram mais-valia

Das privações impostas sem parar

Em ambiente de selvajaria

Onde é o capital sempre a ganhar!

 

E não há meio-termo. Ou tudo ou nada!

Custe o que custar! Esta machadada

Sobre o povo, cravada com veneno,

 

Mantém os governantes convencidos

De que já só uns quantos atrevidos

Reclamam o popular Nazareno!

 

II

Pedra a pedra, desmorona a muralha

Construída com dor, sangue e trabalho,

Muitas vezes no fio da navalha,

Mas sempre ao persistente som do malho.

 

Uma escória oposta aos da minha igualha

Vem reduzindo tudo a miuçalho,

Em atitude louca, de canalha,

E num constante apelo ao reviralho!

 

Pretendem refundar o seu império!

E fazem-no, cavando muito a sério

A sepultura do acordo social.

 

Estão obstinados na vingança

De tudo quanto têm na lembrança…

Até mesmo o conforto de Natal!

 
Dois poemas (sonetos) do nosso amigo e associado José Salgado Leite, expressamente para o Natal de 2012.
Aproveitamos para desejar a todos os nossos estimados associados e leitores votos de um Santo e Feliz Natal!

Boas Festas para todos!

domingo, 16 de dezembro de 2012

POMPEU MARTINS APRESENTOU ROMANCE "FICAR"


 
Na quinta-feira à noite, 13 de Dezembro, foi a apresentado o mais recente romance de Pompeu Miguel Martins, “Ficar”, que lotou por completo a Biblioteca Municipal de amigos e admiradores, não apenas de Fafe mas de Braga e até de Viseu.
A sessão arrancou com a palavra do Presidente do Município, José Ribeiro, que se congratulou com a dinâmica literária e artística da cidade, com a existência de escritores, poetas e artistas em bom número, o que não acontecia há anos. Elogiou o percurso de Pompeu, a sua amizade de longa data e a importância que tem enquanto criador literário.
Também João Pinto felicitou o autor Pompeu Martins e considerou o seu novo livro de grande importância para a literatura, não apenas local mas nacional.
Na verdade, como foi sublinhado na sessão, a editora Labirinto começa a ser cada vez menos de Fafe e mais do país, o que só pode orgulhar os fafenses atentos a estas coisas.
Pompeu resolveu fazer uma apresentação diferente do habitual. Para isso, convocou os poetas que começaram por marcá-lo: Matilde Rosa Araújo (é desta autora o primeiro poema que Pompeu leu na infância), Florbela e José Gomes Ferreira, o poeta-militante.
Pompeu abordou a ambiência criativa, fazendo apelo, através de imagens seleccionadas e da música excelente do Nelson Quinhones, aos autores, aos poemas, às músicas, aos filmes, às obras artísticas que marcaram o seu percurso criativo. Por elas passaram também Leo Ferré, os cantores da resistência, excertos de obras cinematográficas.
“Ficar” começou a ser escrito em Agosto de 2008, em Madrid, na ressaca da morte do pai. Segundo o autor, acaba por ser “um ajuste de contas com o tempo”, na tentativa de “salvar o passado e escrever para além de nós”. Partindo de histórias reais, próprias ou de pessoas das suas relações, a obra fixa o melhor das narrativas, através de um mesmo personagem que se desdobra em três (o velho, o adulto, a criança), que, no fundo, vão gerindo positivamente as diversas perdas ao longo da vida. Também ali se fala de Deus e do seu contraponto, o demónio.
Pompeu gostaria que o seu livro fosse um pouco um “manifesto a favor do envelhecimento activo” e contra a “mentira do tempo”. “Ficar” é também um exercício em torno da liberdade interior e sobretudo de um “olhar humano” sobre as coisas e os dias.
Uma obra a ler, com todo o prazer!
Fotos: Manuel Meira Correia